Os gêmeos ingleses Layton e Kaydon, nascidos em junho de 2006, foram manchetes de jornais no mundo todo. O que eles têm de tão especial? Layton é loiro de olhos azuis e Kaydon é mulato de olhos castanhos.
Segundo alguns veículos da imprensa, a chance de isso acontecer seria de 1 em 1 milhão. Vamos ver que há um exagero aí. Há também os desconfiados que pensam ter descoberto o suposto truque: "Nasceram do mesmo pai?", questionam.
Para nós geneticistas, não há nada de surpreendente, pois a mãe dos gêmeos é mulata (como Kaydon), e o seu marido é loiro de olhos azuis (como Layton). Como a cor da pele é determinada por vários pares de genes, de efeito aditivo, é comum observar uma grande variabilidade entre irmãos, quando os pais (ou um dos cônjuges) têm pele escura.
Os genes determinantes da cor da pele ainda não foram totalmente identificados, mas já é sabido como o "balé" da herança genética ocorre: para qualquer característica que herdamos, recebemos sempre uma cópia de cada par de genes dos nossos genitores, uma do pai e outro da mãe.A fim de facilitar a compreensão, vamos imaginar que sejam quatro pares de genes. Que tal esquematizarmos o que aconteceu com os gêmeos ingleses?
* Representando a mãe (ou o sexo feminino) com uma "bola", o pai (ou o sexo masculino) com um "quadrado"; os genes para pele branca com uma bolinha branca e pele escura com uma bolinha preta.
O pai dos gêmeos passou para seus dois filhos os únicos genes que tinha: "brancos". Já a mãe (que tinha uma mistura de genes) transmitiu, ao acaso, os "negros" para Kaydon e os "brancos" para Layton.
Do mesmo modo, se o pai e a mãe forem mulatos, (isto é: cada um portador de uma mistura de genes "brancos" e "negros"), a maioria dos filhos vai ter uma cor de pele semelhante aos pais. Porém, existe a possibilidade, embora menor, de se ter dois extremos: indo de um loiro a um negro.
O que chamou a atenção da imprensa foi o fato de serem "gêmeos", pois, intuitivamente, acredita-se que gêmeos têm de ser iguais; nesse caso, deveriam necessariamente ter a mesma coloração de pele.
Esquece-se que gêmeos fraternos, como é o caso dos bebês ingleses, são originados de dois óvulos e dois espermatozóides diferentes. Isto é: geneticamente não diferem de irmãos "não-gêmeos", a não ser pelo fato de terem compartilhado o mesmo útero simultaneamente. Se fossem gêmeos idênticos (ou seja, resultantes de um único óvulo, fertilizado por um único espermatozóide que se dividiu em dois), Kaydon e Layton teriam, sim, de ter a mesma cor de pele.
Perguntam, ainda: "gêmeos fraternos poderiam ter sido originados por pais diferentes?"
Segundo alguns veículos da imprensa, a chance de isso acontecer seria de 1 em 1 milhão. Vamos ver que há um exagero aí. Há também os desconfiados que pensam ter descoberto o suposto truque: "Nasceram do mesmo pai?", questionam.
Para nós geneticistas, não há nada de surpreendente, pois a mãe dos gêmeos é mulata (como Kaydon), e o seu marido é loiro de olhos azuis (como Layton). Como a cor da pele é determinada por vários pares de genes, de efeito aditivo, é comum observar uma grande variabilidade entre irmãos, quando os pais (ou um dos cônjuges) têm pele escura.
Os genes determinantes da cor da pele ainda não foram totalmente identificados, mas já é sabido como o "balé" da herança genética ocorre: para qualquer característica que herdamos, recebemos sempre uma cópia de cada par de genes dos nossos genitores, uma do pai e outro da mãe.A fim de facilitar a compreensão, vamos imaginar que sejam quatro pares de genes. Que tal esquematizarmos o que aconteceu com os gêmeos ingleses?
* Representando a mãe (ou o sexo feminino) com uma "bola", o pai (ou o sexo masculino) com um "quadrado"; os genes para pele branca com uma bolinha branca e pele escura com uma bolinha preta.
O pai dos gêmeos passou para seus dois filhos os únicos genes que tinha: "brancos". Já a mãe (que tinha uma mistura de genes) transmitiu, ao acaso, os "negros" para Kaydon e os "brancos" para Layton.
Do mesmo modo, se o pai e a mãe forem mulatos, (isto é: cada um portador de uma mistura de genes "brancos" e "negros"), a maioria dos filhos vai ter uma cor de pele semelhante aos pais. Porém, existe a possibilidade, embora menor, de se ter dois extremos: indo de um loiro a um negro.
O que chamou a atenção da imprensa foi o fato de serem "gêmeos", pois, intuitivamente, acredita-se que gêmeos têm de ser iguais; nesse caso, deveriam necessariamente ter a mesma coloração de pele.
Esquece-se que gêmeos fraternos, como é o caso dos bebês ingleses, são originados de dois óvulos e dois espermatozóides diferentes. Isto é: geneticamente não diferem de irmãos "não-gêmeos", a não ser pelo fato de terem compartilhado o mesmo útero simultaneamente. Se fossem gêmeos idênticos (ou seja, resultantes de um único óvulo, fertilizado por um único espermatozóide que se dividiu em dois), Kaydon e Layton teriam, sim, de ter a mesma cor de pele.
Perguntam, ainda: "gêmeos fraternos poderiam ter sido originados por pais diferentes?"
Se você leu este artigo até aqui, vai concluir por si mesmo, caro leitor, que a probabilidade de nascerem gêmeos fraternos, com cor de pele diferente, principalmente em um país como o Brasil , onde temos enorme miscigenação racial, é muito maior do que a apregoada 1 em 1 milhão. Na maioria dos casos, essa diferença é perfeitamente explicada pela genética, através da chamada "herança da cor de pele", como vimos nos esquemas acima.
Mas, o nascimento dos gêmeos, já tão discutido aqui, onde um é loiro e o outro mulato (ou negro) nos chama a atenção para outro aspecto muito importante e atual, no paradigma político-educacional brasileiro: as cotas destinadas aos afrodescendentes.
Qual seria a solução deste caso, se houvesse na Inglaterra o sistema de cotas para ingressar na universidade? Embora os dois gêmeos tenham nascido dos mesmos pais e passem a ter provavelmente a mesma educação e as mesmas oportunidades, Kaydon, que é mulato, seria privilegiado pelo sistema; e Layton seria discriminado pelo fato de ser loiro!
Você já pensou que isso pode estar acontecendo neste momento, no nosso país?
Discriminações versus privilégios entre irmãos, amigos,vizinhos, só porque eles têm a cor de pele diferente? Ao invés de se investir pesadamente na educação básica, dando as mesmas oportunidades a todos, independentemente de sua origem étnica, será que a política de cotas não propicia, ao contrário do senso comum, grandes injustiças?
Mayana Zatz
Fonte: http://g1.globo.
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